domingo, 26 de janeiro de 2014

Sobre Copa do Mundo e protestos tardios

Posso ser chamada de “Do Contra”. É claro. Afinal, o que há de se esperar de uma garota de 25 anos que mal sabe das coisas da vida e que deveria mesmo é estar nas ruas gritando, xingando, reclamando e protestando?

Posso estar redondamente errada. E isso até acontece com uma certa frequência. De qualquer maneira, sigo defendendo a teoria de que os protestos que têm como objetivo evitar a realização da Copa do Mundo no Brasil estão sendo feitos tarde demais.
Promover grandes manifestações que impeçam a realização de um evento do porte da Copa do Mundo, com visibilidade internacional, é reduzir as oportunidades e os frutos que serão gerados a uma instabilidade pública. É transformar os milhões de empregos gerados, os milhões de turistas e os bilhões de reais que serão injetados na economia a uma gritaria sem causa definida.

É claro que precisamos de melhores hospitais, mais escolas, mais segurança, melhor distribuição de renda, menos corrupção. Mas, não sejamos ingênuos: é claro que vai ter Copa. E isso não é ruim! Porque é claro que um evento deste porte trará os benefícios ao País. Cada turista estrangeiro deve gastar cerca de R$ 11 mil no País. E imagine quantos virão! Cada cidade que vai receber jogos ou que será cidade-base de uma das seleções deve gerar, segundo estimativa da FGV (Fundação Getúlio Vargas), quase mil oportunidades nas micro e pequenas empresas. O resultado é mais emprego, mais renda e mais movimentação do capital nos municípios.

Aí podem dizer: “Mas os empregos são temporários, isso não muda em nada”. Ah, digo que muda. Muda a experiência que o profissional coloca em seu currículo. Muda sua capacidade. Muda sua visão. Muda o dinheiro que ele vai juntar naquele período. Muda a visão que o empregador tem do funcionário. Pode mudar a vida de muitos. Protestos são válidos, é evidente. Mas peço ao leitor que tome alguns minutos de seu tempo e questione a origem, a validade e a eficácia das manifestações que estamos vivendo hoje.

Onde estavam os protestos e protestantes no dia 3 de junho de 2003, quando a Confederação Sul-Americana de Futebol anunciou que Argentina, Brasil e Colômbia eram países candidatos à sede da Copa do Mundo? 

Onde estavam no dia 31 de julho de 2007, quando a CBF entregou à Fifa os documentos da proposta completa?

E onde estavam no dia 30 de outubro de 2007, quando a Fifa definiu que o Brasil seria sede da Copa do Mundo de 2014?

Ok, me digam que o gigante acordou. Tarde, mas acordou. Porém, gigante que é de fato gigante reconhece as oportunidades que estão à sua frente e aproveitam. A oportunidade é essa. A hora é agora. Não precisamos de ufanismo barato, fingindo que o mais importante para o Brasil é torcer para a Seleção e não ter uma prestação de serviços de qualidade. Precisamos dos serviços, mas também precisamos mostrar a nós mesmos que somos capazes de crescer como de fato mostramos ao mundo que estamos crescendo.

Devemos cobrar quem elegemos. Para termos atendimento de qualidade em qualquer setor municipal, estadual ou federal. Para deixarmos claro que ninguém mais aceita a corrupção, o autoritarismo e a intransigência nos governos. Mas protestos são desnecessários quando se perdem nas causas e não encontram um denominador comum para benefício de toda uma sociedade - ou parte dela.

O leitor pode discordar de meu texto. Mas não precisa ir para a rua por causa disso. E nem fazer manifestação para que o jornal não publique. Devia ter feito isso antes de eu escrever.


Marina Aranha, jornalista, é assessora política em Ribeirão Preto.
Texto publicado na edição de 26.01.2014 do Jornal TodoDia, de Campinas.